9 de agosto de 2015

Eu preciso.

Eu preciso.








Eu preciso do carinho de noite, sem muitas perguntas, com muito silencio, pouca luz e a sensação de dedicação. Eu preciso da bronca bem dada pelo risco que foi corrido, do puxão de orelha pela palavra mal dita, da mão que está sempre perto pra segurar no tropeço.

Eu preciso da mensagem de carinho mesmo quando o dia não foi perfeito, do abraço apertado quando o coração dói, preciso do braço que se dá a torcer simplesmente porque eu preciso.

Eu preciso da sensação de saudade, da patrulha severa, dos olhares desconfiados seguidos de sorrisos de “ai se eu te pego”. Preciso chegar em casa e ter um afago, responder com indelicadeza e ter a certeza da compreensão, preciso que a raiva seja superada pelo zelo, e que mesmo quando eu demonstre não querer, que o abraço seja mais forte que o meu orgulho turrão.

Eu preciso acordar e ter planos, ter a certeza de que os meus sonhos serão ao menos compreendidos e apreciados, mesmo que sejam descabidos e infundados. Eu preciso.

E eu preciso  porque eu não tenho, porque eu não tive. Preciso porque eu dei, eu abracei, eu zelei dia e noite, eu segurei no tropeço, empurrei no desanimo, me descalcei para proteger pés, pés esses que agora andam sozinho, não andam, correm. Correm por aí, pés limpos, novos, pés dispostos a recomeçar porque metade do caminho está andado, pés esses que achava que tinha um sapato apertado, ruim, que tem sapatos melhores por aí, mas que não percebeu o esforço que foi feito pra esse sapato caber. E eu? Vou continuar precisando.

Talvez porque dei mais importância ao conforto do que ao aparente, porque subi alguns tons acreditando que os ritmos eram os mesmos, porque me dediquei e fiz por onde, quando não era necessário ou apreciado. Porque quis colocar os bois na frente do carro crente de que se desse errado bastaria passar os bois pra trás. Porque acreditei demais, tendo como base aquilo que eu julgo certo e justo, porque o simples fato de eu suportar o insuportável e acreditar que o dia de amanhã pode ser surpreendente não significa que todos pensam assim. Porque em qualquer relação na minha vida sempre passei por dificuldades e momentos péssimos, cruéis, e todos eles foram superados, para que eu possa bater no peito e dizer que superei, e pensar isso também não significou que a reciproca seria a mesma.

Talvez eu sempre vá continuar precisando por passar tudo e todos na minha frente, jogar tudo pro alto, ser estourado, defender com unhas e dentes e lutar por valores que nem meus são. Me boicotar. Eu serei um eterno “precisante” de tudo o que eu falei no começo sim, mas não farei disso um dramalhão mexicano. Não farei porque como disse, sempre terei como bater no peito e dizer que sobrevivi. Se aprendi? Talvez, não posso acreditar que tudo o que eu fiz foi errado, mas de fato certo não foi.

Sei que não saberei ser diferente, sei que não será a ultima vez que essa situação se instala na minha vida, até porque não foi a primeira, mas também sei que a crença nas pessoas e as certezas absolutas a partir de hoje não serão mais as mesmas, nunca mais. Que o ser humano consegue ser muito mais cruel do que imaginamos, e que todo o cuidado que eu tenho em escolher até o momento ideal de publicar um texto não é propriedade de quem simplesmente cansa, pensa no quão farto está e vai. Vai sem pensar que aquilo que já não está fácil pode ficar muito pior sozinho, e que mesmo que nada vá bem, ouvir uma respiração no travesseiro ao lado é um consolo, saber que mesmo estando sem coragem de acordar, escovar os dentes e trocar de roupa, ter alguém que sacode a cama ao levantar pra ir trabalhar já é reconfortante, mas entre pensar nos outro o ser humano sempre pensará em sí. E que tipo de humano será que sou eu?

Hoje eu escrevo porque é importante pra mim e é o que eu tenho pra desabafar. Escrevo porque ao reler todos os meus textos aqui publicados, quero ter mais um para refletir no futuro, para me consolar ou só pra ter certeza de que toda dificuldade é passageira.

Evito e continuarei evitando a exposição. Não é toda frase clichê ou tentativa de me consolar que é eficaz.Sei que muitas pessoas ao tentar consolar, acabam saciando a sua curiosidade e reafirmando tudo aquilo que pensavam no passado, querem te propor mudanças achando que você precisa de conselhos quando na verdade você precisa ser compreendido. Mas compreendido por quem? Se nem quem conheceu o desconhecido, ouviu o inaudível e dividiu os segredos, as dividas, os anseios e até o local de trabalho conseguiu compreender....


Encerro este texto desejando a mim mesmo tempo. Não acredito que o tempo cure, apague ou modifique o que já aconteceu, somos um poço de saudade, nostalgia, lembranças e marcas. É uma cicatriz que o tempo só vai fazer com que eu não olhe pra ela todos os dias me lamentando, mas não importa quanto tempo passe, ela vai sempre estar em algum lugar de mim, e em algum momento eu vou ter que olhar pra ela e lembrar de como ela apareceu ali.

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